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Decrease the brightness until you see little (everything that is unruly and sensual belongs to the night). In the night’s fabric, things multiply from within - It has darkened and the tree is no longer, as it were, "a tree". It is now a whistling, dancing tree, with its own rituals, hiding and revealing. This fabric, dark, dark, sometimes pitch dark, is; and it is, because it uneases the body; It is, because just as it retracts, it stimulates and forces it to move, to see better, to hear better, and what was once turbid and slippery is now tangible. I say now, so that in the future we will not forget: at night all beings are elusive.
In Middle Finger Pedestrians, we are not facing a traditionally told story. Now, we could choose to wait for “once upon a time…”, but I am sure it won’t be announced until later; “Pedestrians of the middle finger” (let's be literal) is the result of a set of paintings that show us the intertwining of a narrative that, without statement or glossary, manifests itself as visions that are given in the blink of an eye. That leave us to work with the “ifs” in this story of misaligned and permanently undeveloped temporal and spatial resourcefulness.
A van parked in the dark, foliage and insignificant remnants of light - the dogs of the night have no owner and are the dogs (silently) doing the surveys; little in the distance, confined to pitch darkness but entertained, farther and farther and darker, it is for them to wait; the bird looks dead and the beast threatens the hand, another (who knows if the same) is about to roll a joint and in the midst of all this, the tree that received us goes on and on: enlarged planes, closed planes, life-size figures and partially cut ones, close to us or far away - Each painting, although originating from different challenges and ambitions regarding practice, inevitably ends up converging in the following, and thus successively highlighting a network of formal and informal correlations that eventually result in a contagious and engaging environment.
At night all beings are elusive, and all that remains are sudden glimpses and flashes — a still, blurred image of a distant interrupted wave.
Rui Gueifão
PT
Diminuir a luminosidade até pouco enxergar (tudo o que é desregrado e sensual à noite pertence). No tecido da noite as coisas multiplicam-se a partir de dentro – Escureceu e a árvore já não é, por assim dizer, “uma árvore”. É agora uma árvore que assobia, que dança, de rituais próprios, que esconde e revela. Esse tecido, escuro, escuro, por vezes escuro como o breu, É; e É, porque desatina o corpo; É, porque da mesma maneira que retrai, estimula e obriga a mexer, a ver melhor, ouvir melhor e o que outrora era turvo e escorregadio é agora tangível. Digo já, e para que no futuro não nos esqueçamos: à noite todo o ser é esquivo.
Em Middle Finger Pedestrians, não estamos perante uma história contada tradicionalmente. Ora, podíamos optar por esperar por “once upon a time…”, mas estou certo que este tardará a ser anunciado; “Pedestres de dedo do meio” (sejamos literais) é o resultado de um conjunto de pinturas que nos mostram os entremeios de uma narrativa que, sem enunciado ou glossário, se manifestam enquanto visões que se dão num piscar de olhos. Restando-nos assim trabalhar com os “ses” nesta história de desenvoltura temporal e espacial desalinhada e permanentemente por revelar.
Uma carrinha parada no escuro, folhagem e sobras insignificantes de luz – os cães da noite não têm dono e são os cães que fazem (silenciosamente) as vistorias; ao longe e pequeninos, confinados ao breu mas entretidos, cada vez mais longe, cada vez mais escuro, cabe-lhes a eles esperar; o pássaro parece morto e a besta a mão ameaça, uma outra (quem sabe se a mesma) está prestes a enrolar o charro e no meio de tudo isto a árvore que nos recebeu continua e não pára: planos ampliados, planos fechados, figuras à escala real e figuras parcialmente desenquadradas, ora perto de nós, ora longe - Cada pintura, apesar de oriunda de diferentes desafios e ambições relativos à prática, acaba por, inevitavelmente, convergir na outra e na seguinte e assim sucessivamente evidenciando uma rede de correlações formais e informais que acabam por resultar num ambiente contagiado e envolvente.
À noite todo o ser é esquivo e o que nos resta são súbitos vislumbres e flashes – uma imagem fixa e desfocada de um distante aceno interrompido.
Rui Gueifão
Artworks