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MADRAGOA is delighted to present Plasma, the first solo exhibition by Rodrigo Hernández at the gallery and in Portugal.
For his exhibition at Madragoa, Rodrigo Hernández presents one large floor installation that entirely occupies the space of the gallery. It consists of a number of thin metal sheets that had been modeled and embossed in order to let appear on their surface parts of a human figure caught in movement, froze in the simple action of walking up a step. A recurring subject of Hernández’s practice, the human figure is also in this case devoid of distinctive traits, salient features, and adjectives that can characterize it: the work depicts a neutral person, the prototype of a man, a simple profile close to how a child would draw it. This silhouette is reminiscent of the living mannequins that inhabit the metaphysical paintings of Giorgio de Chirico and Carlo Carrà, but also the sculptural theatrical costumes of Fortunato Depero, while the metallic material with which it is shaped evokes a lucent armour, perhaps belonging to an incorporeal knight, or a nonexistent one, to borrow from Italo Calvino. Each metal part is supported and kept in position on the floor by a modular structure made of coloured wood. The partition of the slab recalls the composition grid, a tool for visual space organization, commonly used to maintain the proportions and provide coherence to the whole composition when three-dimensional objects are transferred into bidimensional images or in the passage between two different scales. It also reminds a chessboard or a puzzle, since each piece is mobile: the entire installation has been conceived as a dynamic structure open to different configurations and combinations, a ductility also suggested by its horizontal format. Depending on the arrangement of the modular squares, the depicted subject will be consistent and legible, or it will be fragmented into an abstract mosaic of more or less recognizable elements. In Hernández’s practice, the traditional vocabulary of art media and styles is reworked in a personal syncretism that blends together archaic taste and futurism. The representation of the moving body in the futuristic avant-garde consists in its fragmentation and re-composition, creating a synthesis that includes the effect that the environment exerts on it, conveying also the density of the space in a mutual deformation of body and space. In Hernández’s installation the representation of the moving body gives way to the real action, to a spatial shift that actually disassembles the figure. Between figuration and abstraction, the silhouette on the metal surface is also halfway between a two-dimensional pictorial representation, with its shadows and light areas, and an all-round sculpture, close to a bas-relief, but lying supine.
The title of the installation, Plasma, with its various meanings and etymological complexity, reflects the implications inherent in the work. From the Greek word plasma: “creature”, “something molded or created”, which comes from the verb plassein: “to mold or form”, with an Indo-European root meaning “to spread thin”. If in Modern Greek plasma is still used referring to a creature, but only imaginary, in the particular Cypriot dialect it is still commonly employed also to indicate a “person”, in a generic sense. In Greece, however, atom is the word taking this same role; a person, as an atom, is essentially individual; that is, structurally indivisible.
The most common meaning today of blood and ion plasma is recent and passes through English, in which plasma originally meant a “pot”, derived from its ancient definition as “anything shaped or molded”, that led to the other meaning of “vessel” or “vehicle”. That is why plasma has been used to define the liquid component that holds the blood cells in suspension, the substance that the blood cells float in. From being the creature, the thing shaped, it became a shapeless element, an active, invisible component, an element in between that holds united atoms and particles, designating also the fourth state of matter, the obscure energy of which stars are made of.
A visual correspondent of the ineffable plasma could be found in René Magritte’s illustrations, in which small clouds, stains, speech bubbles and shapeless forms are often inserted without a precise function. According to Hernández’s intuition, these shapes could take on the role of plasma, in the sense of a “vector” of meanings, the materialization of the void that separates and combines the word and the thing, the word and the image. plasma matter is thus embodied in a vital, malleable form, which seems ready to be shaped depending on the context in which it is used or the word to which it is associated, not far from the logic of Japanese logograms or Kanjis. In the same way, Hernández’s work is open and malleable, and expresses a passage, a transformation both material and related to the word “plasma”: the creature, the person molded into the thin metal surface becomes abstract when scattered, without ever dispersing. During the months of the exhibition, the composition will be periodically reshaped according to different combinations and thus the figure will remain both static and in permanent motion.
PT
A MADRAGOA tem o prazer de apresentar plasma, a primeira exposição individual do artista Rodrigo Hernández na galeria e em Portugal.
Para a sua primeira exposição na Madragoa, o artista Rodrigo Hernández apresenta uma instalação que ocupa na totalidade o chão da galeria. Consiste num conjunto de finas folhas metálicas, modeladas e gravadas, deixando aparecer na sua superfície partes de uma figura humana, capturando o seu movimento, congelando a simples ação de subir umas escadas. Um tema recorrente na prática de Rodrigo Hernández, a figura humana, está neste caso, desprovida de traços distintivos, características salientes ou adjetivos que o possam caracterizar: a peça retrata uma pessoa neutra, o protótipo de um homem, um simples perfil semelhante ao que uma criança desenharia. Esta silhueta é uma reminiscência dos manequins vivos que habitam as pinturas metafísicas de Giorgio de Chirico e Carlo Carrà, mas também os trajes escultóricos teatrais de Fortunato Depero, enquanto o material metálico com o qual se molda evoca uma armadura luminosa, talvez pertencente a um corpo de um cavaleiro incorpóreo, ou inexistente, de Italo Calvino. Cada peça metálica é suportada e mantida em posição no chão por uma estrutura modular feita de madeira colorida. A divisão da chapa lembra a grelha de composição, uma ferramenta para a organização do espaço visual, normalmente utilizada para manter as proporções e dar coerência a toda a composição quando os objetos tridimensionais são transferidos para imagens bidimensionais ou na passagem entre duas escalas diferentes. Lembra, também, um tabuleiro de xadrez ou um puzzle, uma vez que cada peça é móvel: toda a instalação foi concebida como uma estrutura dinâmica, com a possibilidade de diferentes configurações e combinações, uma flexibilidade também sugerida pelo seu formato horizontal. Dependendo da disposição dos quadrados modulares, o assunto descrito será consistente e legível, ou será fragmentado num mosaico abstrato com elementos mais ou menos reconhecíveis. Na prática artística de Rodrigo Hernández, o vocabulário tradicional dos meios e estilos da arte é repensado num sincretismo pessoal que junta o gosto arcaico e o futurismo. A representação do corpo em movimento numa vanguarda futurista consiste na sua fragmentação e re-composição, criando uma síntese que inclui o efeito que o meio envolvente exerce nele próprio, transmitindo a densidade do espaço numa mútua deformação do corpo e do espaço. Nesta instalação a representação do corpo em movimento dá lugar à acção real, numa mudança espacial que desconstroi a figura. Entre figuração e abstração, a silhueta na superfície metálica está entre uma representação bidimensional, com diferenças entre luz e sombra, e uma escultura com múltiplos pontos de vista, próxima de um baixo-relevo mas em decúbito dorsal.
O título da instalação, Plasma, com os seus vários significados e complexidade etimológica,reflete as implicações que lhe são inerentes. Da palavra grega plasma: “criatura”, “algo moldado ou criado”, que vem do verbo plassein: “moldar ou formar”, com um significado de raiz Indo- Europeia “espalhar fino”. Se, no grego moderno, a palavra plasma ainda é usada para fazer referência a uma criatura que seja apenas imaginária; no dialeto Cipriota esta é a ainda normalmente usada para indicar uma “pessoa”, num sentido genérico. Na Grécia, porém, atom é a palavra que assume este papel, uma pessoa, tal como um átomo é essencialmente individual; istoé, estruturalmente indivisível.
O significado mais conhecido nos dias de hoje de plasma de sangue e iões é recente e vem do Inglês, onde a palavra originalmente significou “vaso”, derivando de uma definição antiga que corresponde a “qualquer coisa moldada ou à qual se dá forma”, que levou à definição de “embarcação” ou “veículo”. É por isso que plasma tem vindo a ser usado para definir o componente líquido que mantém as células do sangue em suspensão, a substância na qual as células flutuam. De definir uma criatura, a uma coisa moldada, passa a representar um elemento sem forma, um componente ativo e invisível, que liga e está entre átomos e partículas, designando também o quarto estado da matéria, a energia obscura de que as estrelas são feitas.
Um correspondente visual inefável do Plasma pode ser encontrado em ilustrações de René Magritte, onde pequenas nuvens, manchas, balões de fala e outras formas sem definição são frequentemente inseridas sem uma função específica. De acordo com a intuição de Rodrigo Hernández, estas formas poderiam assumir o papel do plasma, como um “vetor” de significados, a materialização do vazio que separa e combina a palavra e a coisa, a palavra e a imagem. A matéria plasmática é assim corporificada numa forma vital e maleável, que parece pronta a ser moldada dependendo do contexto em que é usada ou da palavra à qual está associada, não muito longe da lógica dos logogramas japoneses ou dos Kanjis. A obra é simultaneamente aberta e maleável, expressando uma passagem, uma transformação tanto material quanto relacionada com a palavra "plasma": a criatura, a pessoa moldada na fina superfície metálica que se torna abstrata quando dispersa, mas que nunca se dissipa. Durante os meses da exposição, a composição será periodicamente reformulada de acordo com diferentes combinações, assim a figura continuará estática mas em movimento permanente.
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