EN
Madragoa is delighted to present Frantic, the first solo exhibition by Joanna Piotrowska at the gallery.
Young children think that closing or covering their eyes makes them invisible to others. This simple, introverted gesture, that responds to an instinctive desire to hide themselves, is then projected into the real domestic space, where children take refuge in small places enfolding them, to feel protected but also to define their first spaces of autonomy and identity. Since we were kids, we used to carve out in our house, even in our room, a corner elected to be an asylum for our imagination and where to build a shelter, a cozy and off-limits place where we could dream and play. Michel Foucault included this kind of “localized utopias” that children know very well – like the bottom of the garden, the Indian tent erected in the middle of the attic, or the parent’s great bed – under the broader concept of heterotopia, recognising in these “other” spaces discrete areas that mark interruptions in the space-time flow, revealing the illusory nature of reality and undermining the coherence of its systems.
The practice of building refuges does not completely end with childhood: as adolescents and adults we keep claiming for an intimate space where we can be in solitude, read a book, listen to our favourite music, or just rest. At the very opposite of kids’ playful and spontaneous attitude, the construction of shelters is the expression of an urgent need for immigrants and homless people searching for a lair in the rips of the urban fabric. Joanna Piotrowska’s new project develops from a reflection on these diverse urges and purposes that lead to the erection of provisional huts meant to protect us, even at home, a private place which should already provide security and freedom.
The photographs of Frantic document a series of temporary shelters built inside different households, using all sort of materials found in these same homes. The shootings took place in Lisbon, where Joanna Piotrowska involved local people to erect inside their own apartments or gardens a tent, a shelter they could inhabit, using furnitures for the structure and selecting personal objects they would live with. The result is a series of different environmental assemblages that look like their authors: some are solid and minimal, some are complicated and fragile, giving the impression they can collapse at any time. While these temporary constructions represent abstract places, all the elements that shape this small-sized kind of Merzbau work as precise clues to the status, taste, lifestyle and interests of the portrayed person. The presence of their creators inside these shelters, the bodies that barely fit in it, reveal them to be traps rather than comfortable places. The photographs strengthen this contrast: the charming atmosphere evoked by these ephemeral, absurd, constructions become disturbing when the person is present. Their disarticulated poses and the peculiar artist’s use of the flash, that flattens the image, render the human bodies as inanimate objects, entangled in the rudimental architectures they inhabit.
The different shades of the title, Frantic, refer to the different attitudes behind the act of building a shelter: from the high excitement of children, to a wild activity due to a feeling of fear, from a hurried search for protection, to a rapid and disordered or nervous activity, like the movement of an animal in a cage.
PT
Madragoa tem o prazer de apresentar Frantic, a primeira exposição individual de Joanna Piotrowska na galeria.
As crianças pensam que ao fechar ou tapar os olhos tornam-se invisíveis aos outros. Este gesto simples, introvertido, que responde a um desejo instintivo de se esconder, é então projetado no espaço doméstico real, onde se refugiam em pequenos lugares, cobrindo-os para se sentirem protegidas, mas também para definirem os seus primeiros espaços de autonomia e identidade. Desde crianças, que costumávamos esculpir na nossa casa, no nosso quarto, um canto eleito para ser um refúgio para a imaginação e onde construíamos um abrigo, um ambiente acolhedor fora de limites onde pudéssemos sonhar e brincar. Michel Foucault incluiu este tipo de "utopias localizadas" que as crianças conhecem muito bem - como o fundo do jardim, a tenda indiana montada no meio do sótão, ou a grande cama dos pais - sob o conceito mais amplo de heterotopia, reconhecendo nestes "outros" espaços, áreas discretas que marcam interrupções no fluxo espaço-tempo, revelando a natureza ilusória da realidade e minando a coerência dos seus sistemas.
A prática de construção de abrigos não termina totalmente com a infância: tanto em adolescentes como quando adultos continuamos reivindicando um espaço íntimo onde podemos estar sós, ler um livro, ouvir a nossa música favorita, ou simplesmente descansar. No extremo oposto da atitude lúdica e espontânea das crianças, está a construção de refúgios, que é a expressão de uma necessidade urgente para imigrantes e sem-abrigos à procura de um lar nos rasgos do tecido urbano. O novo projeto de Joanna Piotrowska desenvolve-se a partir de uma reflexão sobre estes vários impulsos e propósitos que levam à construção de barracas provisórias destinadas a proteger-nos, até mesmo em casa, um lugar privado que já devia por si só proporcionar segurança e liberdade.
As fotografias de Frantic documentam uma série de abrigos temporários construídos dentro de diferentes habitações, usando todo o tipo de materiais encontrados nesses mesmos lares. As sessões aconteceram em Lisboa, onde Joanna Piotrowska trabalhou com pessoas locais para construir dentro de seus próprios apartamentos ou jardins uma tenda, um abrigo que poderiam habitar, usando mobiliário para a estrutura e selecionando objetos pessoais para pertencerem aos abrigos. O resultado é uma série de diferentes assemblages ambientais que se assemelham aos seus autores: alguns são sólidos e minimais, alguns são complexos e frágeis, dando a sensação de que podem desabar a qualquer momento. A presença dos seus criadores nestes abrigos, de corpos que mal cabem dentro das estruturas, fazem pensar que estes locais são armadilhas ao invés de lugares de conforto. As fotografias fortalecem esse contraste: a encantadora atmosfera evocada por estas construções efêmeras e absurdas podem tornar-se desconfortáveis com a presença da pessoa. As suas poses desarticuladas e a utilização peculiar que a artista faz do flash, achatando a imagem, transforma os corpos humanos em objetos inanimados, enredados nas arquiteturas rudimentares que habitam.
Os diferentes significados do título da série – Frantic, refere-se às diferentes atitudes por trás do ato de construir um abrigo: desde do grande excitamento das crianças, a uma atividade selvagem proveniente de um sentimento de medo, desde uma procura apressada para proteção, a uma rápida atividade desordenada e nervosa, como o movimento de um animal numa gaiola.
Artworks