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Lisbon, April 2016
Aventura.
On the beaches of the Atlantic coast north of Lisbon, we wondered taking care not to step on the drawings that the ocean had created on the sand, once it retired in the low tide. As soon as the huge water masses diminished, according to the laws of cosmic attraction, they left before our eyes samples of curves, lines and ridges. An alphabet of sand images that every day tells a different version of the same story.
The time allowed to the observation of this phenomenon is governed by the stars and in particular by the Moon and the Sun; soon the ocean would have moved, gradually erasing what it had drawn, just to reformulate afterwards a new script.
It led to the intuition that the history of the Time coincides with the history of the Space, which in that moment was going to slowly shrink, forcing the western border to get a few tens of meters closer to Athens; and it forced us to quickly fall back to the rocks, as if in a game shaped after the movement of the accordion, drawing a constantly oscillating border which could mark the beginning or the end of a story (or a continent).
We recovered some of these images by making casts of the surface of the beach and from them we obtained the positive using clay boards in order to preserve them and observe their shapes later in time with more attention.
Although the cosmic force that determines the movement of the tides acts impartially on all parts of the globe, the nature of the tide at any particular place is a local and specific matter; their manifestation can be very different even if they occur within a short geographic distance, depending on the topographical features of this or that other bay.
This phenomenon escapes the possibility of being caught through a dethatched impartiality, describing an everchanging horizon that can not be determined recurring to general formula; just like the city and the people who inhabit this or that place, the sea takes the shape of the space it occupies.
The trace of salt that emerged on the fabrics after the water was evaporated in the sun indicates the discriminate between the immersed part and the portion which remained on the surface. All these experiences were gathered as a collection of broken down horizons.
If we consider the ocean as a complex organic system, capable of describing our planet, and we compare the mass of water existing on the surface to the organs of the human body, the Mediterranean Sea might look like the stomach, able to digest and translate the natural elements into a viscerally told story of man and his deepest intimacy.
Thousands nautical miles away on the same meridian, in the Egadi islands, I tried to record the image that could better describe this adventure, a suspension in which we place ourselves as human beings and where the entire course of history takes place.
I imagined the sea as a large dark room and the moon as an enlarger whose phases determine the diaphragm apertures. On the surface of the paper, the light was registered, modulated by the Scirocco breezes and the motion of the waves and small whirlpools.
Renato Leotta
PT
Aventura.
Ao longo das praias da costa atlântica, a norte de Lisboa, caminhámos com todo o cuidado para não pisar os desenhos que o mar tinha deixado na areia, após a baixa da maré. À medida que a enorme massa de água recuava, devido às leis de atração cósmica, ia deixando perante os nossos olhos um campo de curvas, linhas e ondulações. Um alfabeto de imagens de areia que a cada dia conta uma nova versão da mesma história.
O tempo concedido para a observação deste fenómeno é governado pelas estrelas e em particular pela Lua e pelo Sol; em breve, o oceano volta a movimentar-se e apaga tudo o que tinha desenhado para mais tarde voltar a rescrever um novo roteiro.
Fica a intuição de que a história do Tempo coincide com a história do Espaço, e que nesse momento, lentamente forçava o estremo Oriente a aproximar-se alguns metros de Atenas; e obrigava-nos a rapidamente voltar para as rochas, como se de um jogo modelado à imagem do movimento de um acordeão se tratasse, desenhando uma fronteira que constantemente oscila e que pode marcar o inicio ou fim de uma história (ou continente).
Recuperamos algumas dessas imagens fazendo moldes da superfície da areia e daí obtivemos o positivo usando placas de barro, de forma a preserva-las e mais tarde poder observar as suas formas com mais atenção.
Apesar das forças cósmicas que determinam o movimento das marés serem imparciais em todas a partes do globo, a natureza da maré num sitio em particular é uma manifestação local e especifica e que pode ser muito diferente mesmo que ocorra a pouca distância geográfica de outro local, dependendo das características topográficas desta ou daquela baía.
Este fenómeno escapa às leis da imparcialidade desapegada que descrevem um horizonte em constante mudança e que não pode ser determinado recorrendo a uma fórmula geral, assim como as cidades ou as populações que habitam este ou aquele local, o mar toma a forma do espaço que ocupa.
O traço de sal que emerge nos tecidos após a evaporação da água por ação do sol, discrimina entre a parte submersa e a parte que se manteve à superfície. Todas estas experiências foram capturadas como uma coleção de horizontes fragmentados.
Se considerarmos o oceano como um complexo sistema orgânico, capaz de descrever o nosso planeta e equipararmos a massa de água existente na sua superfície com os os órgãos do corpo humano, o mar Mediterrâneo pode parecer-se com o estômago, capaz de digerir e transformar os elementos da natureza para contar a história do Homem visceralmente e na sua intimidade.
A milhares de milhas náuticas de distância sobre o mesmo meridiano, no arquipélago das ilhas Égadas, tentei registrar uma imagem que melhor pudesse descrever esta aventura, uma suspensão em que nos colocamos como seres humanos e onde todo o curso da história tem lugar.
Imaginei o mar como uma grande câmara obscura e a lua como um ampliador cujas fases determinam a abertura do diafragma. Na superfície do papel fotográfico, a luz foi registrada, modulada pelas brisas do Sciroco e pelo movimento das ondas e pequenos remoinhos.
Renato Leotta
Artworks