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Madragoa is delighted to present Wannabe Entomologist, the first solo exhibition of Pablo Echaurren (b. 1951, Rome) at the gallery.
The exhibition’s title quotes a statement uttered on several occasions by Pablo Echaurren, that of wanting to be an entomologist or naturalist, rather than an artist. This vocation to observe nature in its many manifestations – to collect, sample and classify its elements – remains intact in Echaurren’s heterogeneous body of work. An artist/collector, with his gaze turned toward the ground and not into the clouds – and who, when he turns it to the clouds, he samples their shapes – Echaurren resembles the sand collector immortalized by Italo Calvino in a famous text. A dowsing artist who intercepts small wonders hidden in the earth: the shiny armor of beetles, prehistoric flints brought to the surface by rain, the geometries of leaves, the colored pigments of flower petals.
Nature is the thread that connects the two groups of works, belonging to different periods and created with different techniques, which are here placed in dialogue for the first time.
The series of enamel paintings made in 1970 (and never before exhibited) documents the beginnings of his activity as an artist. At not even 20 years old, he took his first steps under the influence and guidance of Gianfranco Baruchello (1924-2023). His master and elected by the young pupil as his tutelary deity, Baruchello passed away only last year, while this year marks the centenary of his birth.
The imagery that unravels from the exhibited Echaurren’s paintings on cardboard blends small landscapes with elements from a surrealist/pop repertoire. On the background, which is almost left completely white, little clouds evoking comic strips’ balloons open up, as if spoken by small animals or objects, among which an envelope recurs. Instead of containing words, they contain landscapes.
The dotted line that outlines the cloud alludes to the realm of thought and dreaming, rather than language, and normal communication is replaced by this exchange of images. These paintings are the prelude to the so-called quadratini, a series that Echaurren created in the first half of the 1970s and simultaneously exhibited in the gallery of art historian and dealer Arturo Schwarz in Milan.
In the quadratini series, the picture is fragmented into tiny squares with dotted lines resembling perforated stamps not yet detached from their sheet. Each work depicts facets of the phenomenal world or imaginary vignettes, inserted within this porous grid. Many visions – mostly coming from nature, such as seascapes, volcanic eruptions or tree foliage – are presented as a sum of details, as a way of re-creating the simultaneity and complexity of reality, to which the title of each work offered, with studied effect, a key.
They are considered by Echaurren “not paintings but rather pages of a discourse or encyclopaedia about myself and the world around me.” Similar to the act of collecting, the decomposition/recomposition of the fragments of the world in the grid is a way of reconstructing an order, of giving sense to the bewildering chaos of his world.
One of these, representing the different facets of a wave, inspired another famous page by Calvino, the opening of the short story Palomar.
The image of the wave reappears in the exhibition, sewn on fabric. In the late 1990s and into the 2000s, Echaurren began creating works on fabric: each piece is a patchwork of different fabrics, similar to a mosaic. The different areas are delineated by a black thread that, as if it were a marker, outlines the contours of the figures. The subjects are similar to those of his early works – natural phenomena, the elements, plants and flowers – but over time a different consciousness of nature seems to have developed in the artist. A conscious awareness of the risks of its exploitation. The tapestries with fluctuating outlines appear on the white wall like the landscapes in the balloons in the works of the 1970s, presenting kaleidoscopic visions of an altered nature.
The series aligns with the illustrations that simultaneously Echaurren published in the weekly magazine Carta where he developed a militant imagery focused on different topics, including the opposition to genetically modified organisms. This seems to be alluded to by the garish colors used in the tapestries, or the presence of eyes opening on flowers and mushrooms. Although the softness of the padded fabrics, the bright colors of the fabrics hint at a joyful world, the presence of plastics, synthetics, and sequins contrasts with the subjects in a result that has something unsettling about it.
Separating the 1970s paintings from the works on fabric, there are the counterculture and the Movement of '77, which Echaurren joined to print fanzines and conceive nonsensical illustrations for the newspaper Lotta Continua, drawing inspiration from the desecrating practices of Futurism and Dada. There are the early 1980s when, embittered by the escalation of violence during the so-called Years of Lead in Italy and the unrealized plans to bring art to the streets, Echaurren makes minimalist collages where language nearly absent. There is the collapse of the Berlin Wall, which prompted him to make the series of paintings on canvas and paper inspired by the idea of “Soft wall” – a wall that falls under the weight of graffiti overlaid over the years.
Throughout the decades, the artist’s commitment remains unchanged: to collect fragments of the world around him, observe them from all sides, piece them together and try to interpret them, in a key that is both serious and ironic.
PT
A Galeria Madragoa tem o prazer de apresentar Wannabe Entomologist, a primeira exposição individual de Pablo Echaurren (n. 1951, Roma) na galeria.
O título da exposição cita uma declaração proferida em várias ocasiões por Pablo Echaurren, a de querer ser entomologista ou naturalista, em vez de artista. Esta vocação para observar a natureza nas suas múltiplas manifestações – para recolher, amostrar e classificar os seus elementos – permanece intacta no corpo de trabalho heterogéneo de Echaurren. Artista/colecionador, com o olhar virado para o chão e não para as nuvens – e que, quando o vira para as nuvens, colhe amostras das suas formas – Echaurren assemelha-se ao colecionador de areia imortalizado por Italo Calvino num texto famoso. Um artista radiestesista que intercepta pequenas maravilhas escondidas na terra: a armadura brilhante dos escaravelhos, as pedras pré-históricas trazidas à superfície pela chuva, as geometrias das folhas, os pigmentos coloridos das pétalas das flores.
A natureza é o fio condutor que liga os dois grupos de obras, pertencentes a épocas diferentes e realizadas com técnicas diversas, que são aqui colocadas em diálogo pela primeira vez.
A série de pinturas em esmalte realizada em 1970 (e nunca antes exposta) documenta o início da sua atividade como artista. Ainda antes de completar 20 anos, deu os primeiros passos sob a influência e orientação de Gianfranco Baruchello (1924-2023). Seu mestre, e eleito pelo jovem aluno como sua divindade tutelar, Baruchello faleceu apenas no ano passado, enquanto este ano marca o centenário do seu nascimento.
O imaginário que se desvenda das pinturas expostas de Echaurren sobre cartão mistura pequenas paisagens com elementos de um repertório surrealista/pop. No o fundo, quase totalmente branco, abrem-se pequenas nuvens que evocam balões de banda desenhada, como se fossem faladas por pequenos animais ou objetos, entre os quais se encontra um envelope. Em vez de conterem palavras, contêm paisagens.
A linha pontilhada que contorna a nuvem alude ao domínio do pensamento e do sonho, mais do que à linguagem, e a comunicação normal é substituída por esta troca de imagens. Estas pinturas são o prelúdio dos chamados quadratini, uma série que Echaurren criou na primeira metade da década de 1970 e que expôs simultaneamente na galeria do historiador de arte e marchand Arturo Schwarz, em Milão.
Na série quadratini, a imagem é fragmentada em pequenos quadrados com linhas pontilhadas que se assemelham a selos perfurados ainda não destacados da sua folha. Cada obra apresenta facetas do mundo fenomenal ou vinhetas imaginárias, inseridas nesta grelha porosa. Muitas visões – na sua maioria provenientes da natureza, como paisagens marítimas, erupções vulcânicas ou folhagem de árvores – são apresentadas como uma soma de detalhes, como forma de recriar a simultaneidade e a complexidade da realidade, para a qual o título de cada obra oferecia, com efeito estudado, uma chave.
São consideradas por Echaurren “não pinturas, mas páginas de um discurso ou enciclopédia sobre mim e o mundo que me rodeia”. Semelhante ao ato de colecionar, a decomposição/recomposição dos fragmentos do mundo na grelha é uma forma de reconstruir uma ordem, de dar sentido ao caos desconcertante do seu mundo.
Uma destas grelhas, representando as diferentes facetas de uma onda, inspirou outra página famosa de Calvino, a abertura do conto Palomar.
A imagem da onda reaparece na exposição, cosida em tecido. No final dos anos 90 e durante a década de 2000, Echaurren começou a criar obras sobre tecido: cada peça é uma manta de retalhos de diferentes tecidos, semelhante a um mosaico. As diferentes áreas são delineadas por um fio preto que, como se fosse um marcador, delimita os contornos das figuras. Os temas são semelhantes aos das suas primeiras obras – fenómenos naturais, os elementos, plantas e flores – mas, com o tempo, parece ter-se desenvolvido no artista uma consciência diferente da natureza. Uma consciência dos riscos da sua exploração. As tapeçarias com contornos flutuantes surgem na parede branca como as paisagens dos balões nas obras dos anos 70, apresentando visões caleidoscópicas de uma natureza alterada.
A série alinha-se com as ilustrações que simultaneamente Echaurren publicou na revista semanal Carta, onde desenvolveu um imaginário militante centrado em diferentes temas, incluindo a oposição aos organismos geneticamente modificados. Este facto parece ser aludido pelas cores garridas utilizadas nas tapeçarias, ou pela presença de olhos que se abrem em flores e cogumelos. Embora a suavidade dos tecidos acolchoados e as cores vivas dos tecidos apontem para um mundo alegre, a presença de plásticos, sintéticos e lantejoulas contrasta com os temas num resultado que tem algo de inquietante.
Separando as pinturas dos anos 70 das obras em tecido, temos a contracultura e o Movimento de 77, ao qual Echaurren se juntou para imprimir fanzines e conceber ilustrações disparatadas para o jornal Lotta Continua, inspirando-se nas práticas profanadoras do Futurismo e do Dadaísmo. Há o início dos anos 80, quando, amargurado com a escalada de violência durante os chamados “Anos de Chumbo” em Itália e com os planos não realizados de levar a arte para as ruas, Echaurren faz colagens minimalistas onde a linguagem está quase ausente. Há o colapso do Muro de Berlim, que o levou a fazer uma série de pinturas sobre tela e papel inspiradas na ideia de Soft Wall – um muro que cai sob o peso de graffiti sobrepostos ao longo dos anos.
Ao longo das décadas, o compromisso do artista mantém-se inalterado: recolher fragmentos do mundo que o rodeia, observá-los de todos os lados, juntá-los e tentar interpretá-los, numa chave simultaneamente séria e irónica.
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